Redes Sociais - Thiago Rodrigo
É na tentativa de nos aproximar de quem está longe que acabamos nos afastando de quem está aqui, na nossa frente. Estamos acreditando naquela falsa sensação de felicidade estampada aos montes nas redes sociais, e com isso, naufragamos. A vida é igual para todos nós, é feita de momentos bom e ruins, e ela passa rápido demais para ficar apenas no virtual. Todos nós precisamos de beijo, de abraço, de cheiro, de toque, de risada, de choro, de gente!
Vamos ler um pouco...
Você está viciado nas redes sociais? 📱
Nos raros momentos em que atraímos ampla atenção — seja por meio de nossas imagens, tuítes ou memes —, tornamo-nos estrelas. E, quando assistimos a nós mesmos recebendo aprovações e curtidas, tornamo-nos também espectadores.
Nas mídias sociais, nosso duplo papel de espectador-estrela é visto "naquela intensidade especial, o brilho devocional que você vê no rosto de um estranho num lugar público qualquer, debruçado sobre o dispositivo portátil em sua mão, totalmente absorto...
Você está viciado nas redes sociais?
Labirinto de espelhos
O antropólogo Thomas de Zengotita defende que, atualmente, estamos perdidos num labirinto de espelhos que distorcem os reflexos do nosso ego. Ele afirma que a tecnologia das telas conduziu a um novo ápice de prazer viciante na era digital, pois as telas tornam possível vivermos num duplo papel: somos tanto espectadores como estrelas.[1]
Nos raros momentos em que atraímos ampla atenção — seja por meio de nossas imagens, tuítes ou memes —, tornamo-nos estrelas. E, quando assistimos a nós mesmos recebendo aprovações e curtidas, tornamo-nos também espectadores. Nas mídias sociais, nosso duplo papel de espectador-estrela é visto “naquela intensidade especial, o brilho devocional que você vê no rosto de um estranho num lugar público qualquer, debruçado sobre o dispositivo portátil em sua mão, totalmente absorto… conferindo as mudanças nos trending topics no Twitter, sentindo a maré de atenção subindo ao seu redor, enquanto surfa uma eletrizante onda de comentários, em todo o país, em todo o mundo — tudo isso é como o toque de uma força cósmica, graças à menor e mais potente de todas as telas pessoais: a do seu smartphone”.[2] Enquanto assistimos a outros nos assistirem, somos tomados pelo êxtase de nos tornamos a estrela. Tornamo-nos espectadores de nosso ego digital.
Fomos transformados
Nossas fotos digitais e selfies apenas amplificam essa autoprojeção. Segundo estatísticas globais, atualmente tiramos mais de um trilhão de fotos digitais por ano. Tornamo-nos atores diante dos nossos próprios celulares e os de nossos amigos. Modificamos nossa imagem e aplicamos filtros em nossa aparência. Então, tornamo-nos espectadores de nós mesmos, pois “cada selfie é a encenação de um indivíduo tal como ele espera ser visto pelos outros”.[3] Como pedaços de massa de modelar, buscamos esculpir uma identidade que será celebrada pelos outros.
Fomos transformados por nossa cultura de estar sempre pronto para as câmeras. Até 1920, ninguém considerava apropriado sorrir para uma câmera. Hoje, todos temos de estar a postos para sermos fotografados a qualquer momento, para encenar para a câmera uma pose contorcida e impressionante. Imagem é tudo — e as mídias sociais são onde nós estrelamos o espetáculo de nós mesmos. Enquanto encenamos em frente às câmeras as identidades que nós mesmos escolhemos, descobrimos que a mágica das imagens geradas por computador (CGI, na sigla em inglês) está à nossa disposição. O nosso ego digital é agora editável por uma infinidade de filtros, lentes e bitmojis — uma maleabilidade incrível para moldarmos esculturas de nós mesmos, algo jamais disponível a qualquer outra geração na história humana.
Escrevi um livro chamado A Guerra dos Espetáculos em que busco mostrar que essa possibilidade de autorretrato e de autoprojeção torna as mídias sociais um espetáculo irresistível, pois nos modelamos para sermos os astros no centro desse palco. Como resultado dessas transformações culturais, cada um de nós sente a transformação do ser para o aparentar. Nossa imagem autoconstruída — nossa aparência digital — torna-se tudo.
De uma maneira profundamente viciante, existimos ao mesmo tempo como estrelas e espectadores. E as mídias sociais “testemunham o poder desse duplo aspecto do exibir-se, uma intimidade recíproca que não é igualada pelo envolvimento com qualquer outra mídia, muito menos pela realidade”.[4]
Artigo adaptado do livro A Guerra dos Espetáculos, de Tony Reinke, futuro lançamento da Editora Fiel.
[1] Thomas de Zengotita, “We Love Screens, Not Glass”, theatlantic.com, 12 mar. 2014.
[2] Ibid.
[3] Nicholas Mirzoeff, How to See the World: An Introduction to Images, From Self-Portraits to Selfies, Maps to Movies, And More (New York: Basic, 2016), 62.
[4] de Zengotita, “We Love Screens, Not Glass”.
* Logo novas questões e mais materiais ...Estudem...
👈 👉
Comentários
Postar um comentário